Abraçando a complexidade com criatividade em sessões de Product Discovery

Leonor Bonets
7 min readOct 26, 2020

Uma viagem por diversas técnicas de Product Discovery de um produto complexo.

Think outside the box!

Muito se fala sobre refactoring , sobre aperfeiçoar um produto já existente, mas por onde começar de forma a não manter vícios e cair nos mesmos erros? Começando do zero, porém não esquecendo das lições aprendidas. Devemos considerar nossos erros como oportunidades de aprendizado e melhoria.

Lindas palavras, mas na hora de colocar na prática temos dificuldade em pensar além dos atuais limites do produto e então ouvimos “pense fora da caixa!”.

Pensar fora da caixa é um processo criativo, e o que é a criatividade? Ela é genética, é um dom ou pode ser desenvolvida? A boa notícia é que todos somos criativos, afinal, quem nunca teve uma ideia ou achou a solução para um problema enquanto tomava um banho?

Criatividade é a inteligência se divertindo.” — Albert Einstein.

Tendo isso em vista, como despertar a criatividade para a reconstrução de um produto subjetivo, complexo, repleto de vícios, falhas e limites? Não existe uma metodologia ou uma dinâmica que seja a bala de prata para essas situações. Combine tudo que há de melhor conforme o propósito e objetivo desejado em cada sessão.

Contarei logo abaixo minha jornada de descoberta de um produto já existente e que precisava ser reconstruído.

Valores do Produto

A primeira coisa que eu queria saber era: o que o time de desenvolvimento enxerga como necessário para fazer um bom produto? As respostas refletem diretamente sobre os valores das pessoas do time e norteiam futuras decisões.

Podemos notar pela word cloud que rodei com o time os pilares de maior valor:

Word Cloud via Mentimeter.com

Além de ouvir o time, para identificar o que era importante no nosso produto no ponto de vista do cliente, apliquei o Priority Sliders com a área de negócio, de forma a nos ajudar a focar no que traria mais valor:

Priority Sliders via Mentimeter.com

E estava interessada em saber também o que nossos clientes esperam como resultado final do produto:

Word cloud via Mentimeter.com

Começando a repaginação

Nosso produto não seria repaginado para ser somente uma V2 (versão 2) do original, eu queria passar logo de início uma visão mais ampla do que teríamos pela frente, então passei a chamar de V8, fazendo uma analogia com os fatores de sucesso de um produto x os motores V8, que possuem os diferenciais abaixo:

  • Potência: garantindo força e aceleração = rapidez;
  • Compacto;
  • Permite a otimização das peças que os usam;
  • Multi plataforma: pode ser usado em automóveis de pequeno porte, em utilitários, embarcações marítimas e até aeronaves;
  • Design: a disposição dos cilindros em V facilita o desenho dos carros esportivos;

Aonde estamos?

Será que todos no time possuem a mesma visão sobre o produto?

Fizemos uma sessão de É- NÃO É - FAZ — NÃO FAZ (Lean Inception do Paulo Caroli) com todo o time de forma a deixar todos na mesma página com relação ao ponto em que estávamos e tivemos várias divergências no que tange: o que o produto é (ou deveria ser), o que não é, o que deveria fazer e não faz e o que o produto faz mas não deveria fazer.

Board da dinâmica É — NÃO É — FAZ — NÃO FAZ no Mural.co

A dinâmica rendeu conversas muito produtivas e nos fez refletir sobre o produto, no final estávamos todos de acordo com o que o produto é/ não é/ faz/ não faz. Passamos a olhar e a nadar na mesma direção.

O que temos e o que podemos levar de bom?

Antes de pensar no que inovaremos no produto, vamos olhar para o que já temos e perguntar para o cliente:

  • o que ele ama no produto, para sabermos que temos que no mínimo manter essas funcionalidades;
  • o que precisa ser melhorado, para identificarmos potenciais pontos de melhoria;
  • o que é ruim demais: esses apontamentos necessitam de outras conversas para identificar melhor essas dores e encontrar a melhor solução.

Para essa dinâmica apliquei uma Happiness Door com a área de negócios, prática do Management 3.0 que uso muito para medir o nível de satisfação de reuniões e dessa vez usei para medir a satisfação com nosso produto:

Happiness Door de um produto via IdeaBoardz

Pra onde vamos?

Após conversas com o time sobre a construção do zero do nosso produto, chegou a hora de começarmos a pensar no que iríamos inovar de forma a não termos somente um novo produto velho.

A dinâmica dos Improvement Cards

Usei os Improv Cards do Management 3.0 para incentivar o diálogo e despertar a criatividade nessa etapa de criação.

Criatividade é a arte de conectar ideias.” — Steve Jobs.

Virtualmente esse jogo pode ser feito pelo o app “Cards M3.0” da Banana Soluções e mais recentemente pelo próprio site do M30. Fizemos pelo app, aonde todos baixaram o aplicativo antecipadamente.

O app gera imagens aleatórias e cada um tinha que falar algo que ligasse a imagem que aparecia no seu celular com o que deveríamos entregar como produto:

Improv Cards pelo app “Cards m3.0”

A dinâmica foi divertida, produtiva e a peça chave para os passos que vem a seguir. Todos exercitaram seu storytelling e conseguimos identificar tópicos do produto que não havíamos considerado ainda.

Consolidando as ideias

Depois dos improv cards, fizemos 30 minutos de levantamento de ideias que suportam os pilares do que consideramos um produto de sucesso.

Usei mais uma vez o IdeaBoardz para coletar as ideias do time:

Após agruparmos as ideias semelhantes, montamos de forma colaborativa o mapa mental do nosso produto V8:

Mapa Mental via Coggle.it

Tínhamos em um nível macro o que desejávamos para a repaginação do nosso produto, em níveis funcionais e não-funcionais. Estávamos prontos para os próximos passos: fatiar o produto e enxergar qual fatia que traria maior valor ao negócio.

E agora, por onde começar? Foco!

“That’s been one of my mantras — focus and simplicity. Simple can be harder than complex: You have to work hard to get your thinking clean to make it simple. But it’s worth it in the end because once you get there, you can move mountains.” Steve Jobs

Foco e simplicidade!

Precisávamos escolher aonde iríamos focar para então clarear o pensamento e torná-lo simples.

Baseado na visão estratégica da empresa, no roadmap do produto, nos objetivos que as áreas de negócio visavam alcançar e no mapa mental montado, escolhemos 1 objetivo a atingir e focamos nossos esforços nele.

Realizamos uma dinâmica de Impact Mapping baseada no objetivo escolhido e conseguimos:

  • Mapear os atores envolvidos (pode ser uma pessoa, uma área, um sistema, um módulo, etc);
  • Mapear o impacto em cada um deles (o que eles tem que fazer para atingir o objetivo?);
  • Mapear os entregáveis de cada um.

Confira o resultado final:

Impact Mapping via Coggle.it

Próximos passos

Todo esse trabalho tem como propósito entregar um produto de valor no menor tempo possível. Nesse ponto já chegamos quase no fim do funil do foco do produto, com um objetivo em mente, com os valores elencados, com a visão da big picture e com os impactos mapeados, agora é “só” detalhar as users stories, montar o backlog e mãos a obra. ;)

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